Lippina - a dolcissima e controversa história de amor de Filippo Lippi Lippi e Lucrezia Buti


O habilidoso Filippo Lippi teve uma infância difícil que o levou a ser custodiado, aos oito anos de idade, aos carmelitas do Convento del  Carmine, em firenze. Local onde conheceu Masalino Panicale e Masaccio enquanto esses decoravam a belíssima Capela Brancacci. Além da influência artística, Filippo recebeu também a vocação sacerdotal, tomando o hábito de Mônaco carmelita.

Coetâneo e amigo de Beato Angélico, Donatello e Lucca della Robia, executou muitos afrescos, telas e retábulos com características de expressividade e vivacidade que logo chamaram a atenção da Família Medici.

Entre 1452 e 1465, esteve na região de Prato, vizinha a Firenze, para executar a Capella Maggiore do Santo Stefano. Entre desentendimentos vários acerca do pagamento da obra e questionamentos acerca da obra, Lippi pintou vários outros quadros, muitos encomendados pelos Medici, Martelli  e outros aliados.

Neste interstício, o jovem monge conheceu a bela e doce freira Lucrezia Buti, por quem se apaixonou perdidamente, passando a pintar seu rosto em múltiplas imagens da Virgem.

Contam as crônicas que, tão logo se conheceram, a bela Lucrezia deixou o convento para morar junto do pintor em sua residência provisória em Prato.

Apesar do amor intenso de ambos e do grande escândalo que o conubio rendeu à boca popular, não lhes era autorizado casar -se.

Os rumores aumentavam a cada dia e muitas pessoas acorriam à Capella Maggiore para conferir o rosto da Virgem.  

Quando, em 1457, a jovem Buti se viu grávida do primeiro filho, aquele que seria tão grande pintor quanto o pai, Filippino Lippi, a liberação dos votos clericais se tornaram ainda mais pungentes.

Foi graças à intervenção de Cosimo Vecchio, grande admirador e protetor de Lippi, que a autorização para o desligamento do casal dos vínculos com a Santa Madre Igreja e,  posterior casamento, chegou em 1461.

Sua obra mais aclamada é, sem dúvida, a "Lippina", A Virgem com o Menino Jesus e Anjos. De data de execução imprecisa, muitos especialistas apontaram como sendo um retrato de Lucrezia e de seu  pequeno bebê,  Filippino Lippi. 

A obra só foi descoberta no Século XVIII, na Villa Medici de Poggio Imperiale, portanto, pouco se sabe sobre qual a natureza de sua comissão,  data de execução ou modelo, contudo, alguns elementos básicos utilizados na época,  podem trazer a compreensão de que o quadro retrata mais que os elementos sacros aos quais se refere, sendo, por fim, a eternização da história de amor desses dois jovens.

Era comum na segunda parte do Quatrocento, representar pessoas do convívio íntimo, auto retratos ou grandes comitentes no papel de Santos,  geralmente, associando a personalidade da pessoa à representatividade da virtude sacra que se desejava exaltar ou ao santo protetor daquele que fora representado.

Elementos sutis, como o elaborado penteado, o adorno em pérolas e o delicado véu que cinge a testa da Virgem, remontam com precisão os elementos que representavam a rara beleza e elevação das damas fiorentinas daquele tempo.

A suavidade da veladura, a ligeira noção de movimento e o uso das cores neste quadro, impulsionaram outros grandes pintores, tais como Botticelli e Leonardo.  


Faz sentido que a obra tenha sido executada, e talvez até mesmo DOADA, para os Medici, em agradecimento à intervenção de Cosimo Vecchio em favor da felicidade do casal. 



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