A estreita relação de Lorenzo Magnífico com o Oriente
O renascimento italiano foi mais influenciado parla cultura oriental do que normalmente se imagina.
O constante fluxo comercial de especiarias, tecidos, tapetes, porcelanas, artigos de vidro, laca, pérolas, pigmentos usados no tingimento de tecidos ou telas estreitou as fronteiras entre a Espanha sob domínio muçulmano, a Turquia, Egito, China e toda a Europa Ocidental.
Os mesmos barcos genoveses e venezianos que carregavam as mercadorias, levavam tratados, receitas, documentos, palavras novas incorporadas do léxico de otomanos, chineses e árabes.
Os milenares conhecimentos da medicina chinesa, ervas aromáticas e alucinógenas, assim como as operações de catarata feitas por árabes estão relatadas nas crônicas dos Séculos XV e XVI.
A absorção dos conhecimentos da sociedade árabe sobre a astronomia, possibilitaram navegações mais seguras e longas.
Hoje sabemos que o pensamento filosófico e científico de antigos hindus, árabes e chineses influenciou fortemente os geniais Leonardo da Vinci, Vesaljus e Copérnico.
A troca entre duas culturas nunca permanece apenas no campo mercantil, ela, antes de tudo, é uma troca simbólica, impregnada de valores culturais e transformações sociais.
Enquanto a guerra dos Cem anos assolava a Europa e dilapidava cofres da nobreza e de grandes banqueiros, em 1453, os turcos otomanos tomam Constantinopla, a última porta de conexão com o mundo clássico do Antigo império romano.
O sultão otomano Mehmed era altamente erudito e empregou muitos humanistas em sua corte que, segundo os registros, liam diariamente textos de historiadores como Tito Lívio, Quinto Cúrcio, além de narrativas papais, pois entendia que o poder e a dominação não se dava apenas pela força, mas acima de tudo, pela compreensão e assimilação cultural do dominado, de modo que ele possa ser dissuadiado a atender o dominador.
Suas aspirações eram calcadas na trajetória de Alexnadre Magno, portanto, o escambo cultural fazia parte de sua estratégia.
Mehmed declarou que turcos e italianos tinham uma origem comum e colocou em prática um audacioso plano de reconstrução e reurbanização de sua capital, agora Istambul (O trono em turco).
Para tanto, Mehmed cortejou as grandes famílias italianas para obter artistas, artesãos e arquitetos. Dentre eles, Michelozzo, o arquiteto dos Medici, que segundo registros do embaixador veneziano do Século XVI, construíra o maior e mais luxuoso palácio já visto.
A imagem de Mehmed era tão bem vista na Firenze do Magnífico que, em 1482, o humanista Fiorentino Francesco Berlinghieri dedicou sua nova tradução latina da Geografia de Ptolomeu a "Mehmed dos otomanos, príncipe industrioso e senhor do trono de Deus".
Muitos outros artistas fiorentinos, escolhidos por Lorenzo, foram à Istambul e voltaram carregados de presentes, joias com design que influenciaram sobremaneira a ourivesaria fiorentina, em especial a dedicada à família Medici, incluindo muitas pérolas e conchas exóticas nas peças para eles confecionadas.
Outro elemento importante do escambo entre Mehmed e Lorenzo era a constituição de uma casta biblioteca de manuscritos clássicos. Segundo a diretora da Biblioteca Laurenziana, muitos dos manuscritos raros (mais de 800 volumes) foram recebidos ou furtados de Bibliotecas orientais.
O amor de Lorenzo e Giuliano por cavalos era sempre agraciado por belos exemplares vindos do Oriente.
Quando, em 1478, os irmãos Medici foram atacados pela Conspiração de Pazzi, Bernardo Bandini Baroncello, um dos assassinos fugiu e chegou a Istambul, na esperança de não ser punido. contudo, assim que p sultão Mehmed soube, sua guarda o caçou e entregou a Lorenzo para que ele fosse devidamente julgado e executado.
Para expressar sua imensa gratidão, Lorenzo encomendou ao artista Fiorentino Bertoldo Giovanni uma medalha comemorativa com o retrato de Mehmed de perfil na parte frontal e em pose triunfante guiando uma carruagem com personificação dos territórios da Europa e Ásia, simbolizando o reconhecimento de sua altivez e livre acesso no mundo ocidental.
Quando Mehmed morreu, seu filho Selim desafiou o irmão sem sucesso e precisou se exilar para sobreviver. Primeiro foi a Rodes, atual França, em 1489 passou por Firenze e por fim foi à Roma, onde ficou sob a supervisão papal, pois neste momento Lorenzo sofria a perseguição liderada por Savonarola e não poderia abrigar um "ímpio".
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