Caterina de Medici e a boa mesa - Parte I

Por trás da história dos talheres, há uma longa Minh a do tempo e de alterações dos costumes sociais. 

Verifica-se que a colher  já estava em uso pelos egípcios, há mais de 5000 anos atrás.

Na Roma antiga, dois tipos De colheres eram usados: o primeiro era chamado coclear ou cockleare ( em italianl cucchiao, termo derivado cocklea, ou "concha"), usado para comer alimentos líquidos, moluscos, ovos e administrar remédios; o outro , denominado  ligulas,  que tinha a forma de uma folha de louro e provavelmente foi usado para perfurar a comida (alguns de fato a consideram mais um ancestral que o garfo do que da colher tal como a conhecemos hoje).

As colheres dos romanos eram feitas de vários materiais, sendo dentre eles o osso, o mais comum, porém,  bronze e prata predominavam, claramente, entre as famílias ricas.

Durante a maior parte da Idade Média, as colheres, quase sempre eram feitas em madeira, e eram usadas muito raramente. Somente no início da era moderna que elas voltaram em voga.
Nas classes sociais mais altas, tornaram-se indispensáveis ​​à mesa e, na Inglaterra, eram frequentemente gravadas com o nome ou iniciais da família, quase sempre confeccionados em ouro e prata.

Já o uso do garfo de mesa estabelecido na era moderna,tem uma história que também remonta vários séculos, pois vestígios arqueológicos mostram que os romanos antigos já usavam um tipo de garfo para manusear alimentos na cozinha. 

Ap que parece, o primeiro garfo, como conhecemos atualmente, ou seja, como utensílio utilizado para levar a comida à boca, tem origem bizantina;  a ferramenta muito útil foi  mencionada pela primeira vez, com base em nosso conhecimento atual, em referência ao banquete de casamento refinado entre a princesa grega Argillo e o filho do então Doge de Veneza, comemorado em 955. 

Como estava intimamente ligado à cultura e aos costumes bizantinos, no clima de tensão decorrente do cisma entre a Igreja Ortodoxa e Roma (1054), o garfo foi por muito tempo desaprovado pela hierarquia católica, que até o classificou como um instrumento do diabo, inclusive, introduzindo a imagem do tridente do demônio, como elemento de associação na construção do imaginário coletivo. 

Contam algumas versões que o pobre filho do Doge morreu repentinamente, ao que se atribuiu a má sorte do uso dos talheres que vieram com o dote da noiva.

Na Itália, os garfos começaram a aparecer com mais frequência nas mesas apenas a partir dos anos 1300, sobretudo, nas classes altas; depois, nos tempos modernos, eles se espalharam lentamente para outros países do Velho Continente, como a França, onde, muito provavelmente, fora introduzido pela primeira vez por Caterina de 'Medici. 
Apesar do uso de talheres à mesa, em especial o garfo, ter sido considerado uma extravagância enorme na França, Caterina podia ser bem "persuasiva" quando queria algo e contam as crônicas que ela, apaixonada pela boa mesa, tanto no sentido gastronômico, quanto no de sua apresentação, instituiu o uso de talheres  em suas repeções na corte e, por insistência, naturalizou-o entre os franceses.

Como no Século XVII a corte francesa "ditava" as regras sociais e servia de parâmetro para todos os demais reinos, podemos dizer que essa proeza foi realizada pelo hábito daquela que fora a pequena Duchessina dos fiorentinos e a grande Rainha Negra dos franceses.

Durante o século XVIII, o garfo fazia parte, da vida cotidiana de quase todos, incluindo aqueles pertencentes às classes sociais mais populares.




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