LUCREZIA DONATI, O GRANDE AMOR DA VIDA DE LORENZO DE MEDICI

A jovem Donati, que se chamava Lucrezia como sua mãe, foi, segundo as crônicas e registros pessoais, o grande amor da vida de Lorenzo de Medici.

Lucrezia, ao que tudo indica, era um nome adotado pela aristocracia italiana do 500. Assim foi chamada a filha do influente e controverso Papa Bórgia, Alessandro VI, e além da mãe de Lorenzo, a família Medici teve ao menos outras três Lucrezias, sendo uma irmã e uma filha do Magnífico e a última, filha de Cosimo I.

Lucrezia Donati era filha de Manno Donati, herdeiro da Casa dos Donati, partidários dos Guelfi Neri e tiveram papel importante durante o Século XIV quando Firenze se partiu em duas em razão do duro conflito entre Guelfi Neri e Bianchi. Pelo lado de sua mãe, Lucrezia descendia dos Velluti, mercadores que se estabeleceram na cidade por volta de 1313 e construíram riqueza ao ponto de estabelecer 6 filiais em cidades italianas, uma a Paris e outra na Inglaterra . 

Ainda que pertencesse a um ramo menos privilegiado da aristocracia fiorentina, a jovem Donati tinha estirpe, o que possibilitou que fosse bem educada e letrada, soubesse dançar, tocar algum instrumento, se portar bem nos salões sociais e, segundo os relatos, cuidava com extrema cura de seu aspecto físico, apresentando-se sempre muito bem vestida, com belos penteados e ricamente adornada.

Quando Lorenzo e Lucrezia se encontraram, ela era dois anos mais velha que ele, embora não aparentasse e isso fosse pouco relevante para determinar ou não uma união, contudo, àquela altura ela já era casada com Niccolò Ardinghelli, um rico mercador, trinta e um anos mais velho, enquanto ela mal completara dezessete.

Niccolò, referem as crônicas, estava sempre em giro pela Europa e Oriente a cuidar de seus negócios, enquanto sua jovem esposa ficava em Firenze, junto dos Donati, como era o costume.  Foi num desses momentos de ausência do marido que o destino aproximou Lucrezia e Lorenzo, num funeral de uma influente Senhora da Sociedade Fiorentina. O jovem Medici, como todo poeta e adolescente, disse que foi fulminado pela presença da bela Donati.

Deste momento em diante, Lorenzo não deixa mais de exaltar a sua beleza e o amor que nele foi despertado por ela. Dedica-lhe uma profusão de poemas,  organiza um torneio no qual disputa com as cores  da família dela presas à lança e tem em seu estandarte uma frase dedicada à ela que se tornará um de seus motes "SEMPER". Seus amigos facilitaram sua vitória no torneio e, apesar de Lorenzo já estar comprometido com Clarice Orsini, oferecerá, publicamente, sua glória à bela que é a dona do seu coração.

Nos poemas à ela dedicados, Lorenzo insiste em traçar o Amor deles como Platônico. Além de estar em moda o resgate dos princípios ideais de Platão em contraposição à mentalidade Aristotélica que imperava até então, era a maneira de manter as famílias em paz, apesar das maledicentes línguas fiorentinas se especializarem em espalhar boatos de toda sorte sobre os dois jovens desafortunados.

Apostam alguns historiadores que o romance impossível dos dois teria inspirado Shakespeare a escrever Romeu e Julieta, pois, de fato, os Donati foram "convidados" a deixar Firenze para que sangue não voltasse a ser versato na Piazza della Signoria ou nas ruelas estreitas. 


Há uma abundância de relatos sobre a beleza física de Lucrezia Donati, contudo, não conhecemos sua verdadeira face. Duas obras de arte nos restam como supostos indicativos dessa doce beleza.

Uma delas é um exemplo emblemático de retrato que se desenvolveu na Firenze da segunda metade do século XV, retomando a tradição medieval de efígies devocionais de cera, o busto em mármore. 

A obra realizada pro Andrea del Verrocchio, durante muito tempo, o trabalho foi identificando como o retrato de Lucrezia mencionado no inventário elaborado após a morte de Lorenzo de 'Medici em 1492. Não houve especificação sobre qual Lucrezia seria a retratada (sua mãe Lucrezia Tornabuoni ou Lucrezia Donati?).


Entretanto, estudos mais precisos agora parecem excluir a comissão Medici, seguindo os traços documentais da estátua, mencionados pela primeira vez na vontade do nobre florentino Francesco Ceccherini de 1822, como obra de Donatello. Em 1825, os herdeiros Ceccherini negociaram a venda do busto para as coleções Grão-Ducal, sinalizando-o como comprado na época por outra família florentina, ainda que desconhecida. Comprado na Galeria Uffizi naquele mesmo ano por Leopoldo II, passou a Bargello, onde está até o momento, com o rearranjo das coleções de 1873.


Outra possibilidade é um quadro das virtudes, pintado por Sandro Botticelli e comissionada por Lorenzo, pode ter usado a jovem Donati como modelo.


Lorenzo continuou, por toda a vida, a referir-se apaixonadamente a sua Bella Lucrezia. Se a paixão passou ou não dos limites platônicos, não podemos afirmar com certeza, mas sabemos que a intensidade do amor de ambos, suas muitas afinidades e a distância dos seus cônjuges - Lorenzo despachou Clarice para passar a maior parte do tempo nas Villas Medici dos arredores de Firenze com a alegação de que assim a família estaria mais segura e ele mais concentrado nos negócios - foram elementos propícios para o estreitamento dessa relação. 




FONTE: VANNUCCI, M. Le Donne di CAsa Medici. Newton and compton ed: Roma, 2006.


Fortezza - Botticelli, óleo sobre tela, em 1470
La dama col Mazzolino - Mármore, Andrea del Verrocchio, - frente

La dama col Mazzolino - Mármore, Andrea del Verrocchio, - verso

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