Como seria viver na Florença do Século XVI na visão de Michelângelo Buonarroti




Se pudéssemos conversar com  um grande gênio renascentista e perguntar como seria viver na Florença do Século XVI, talvez, Michelângelo Buonarroti, criador de obras primas da escultura como o David, Moisés e Pietà, de pinturas como o tondo Doni ou o Juízo Final da Capela Sistina e da arquitetura, como a cúpula da Basílica de San Pietro, ele nos desse a resposta a seguir...
    
A minha bela cidade era um lugar cheio de cores, aromas e sabores diversificados que faziam brincar a imaginação de qualquer um que vivesse lá, mas também era um lugar conflituoso e cheio de rivalidades entre Ghibellini e Guelfi, Guelfi bianchi e Guelfi Neri, com os moradores de cada um dos quartieri se sentindo  mais importante que os demais o que os leva ao torneio anual do Calcio Storico para saber quem é o mais forte e sortudo do ano, e por  fim, aquele inferno da política corrupta e cheia de intrigas liderada pelos Medici.

Mas uma coisa tenho que dizer: na época do Magnífico a política não era bem assim... ele não compactuava com tudo, embora eu tenha me decepcionado muito com ele antes dele morrer...

Como todos sabem, eu tinha uns 14 ou 15 anos quando ele me viu trabalhando nos jardins de San Marco, me desafiou e, como eu não resisto a um desafio, nem meço esforços para mostrar o tamanho do meu talento, logo extraí do mármore um fauno com uma gargalhada grotesca, mítica, eu diria, que o deixou tão boquiaberto que o fez me adotar como um pupilo dileto, quase um filho, e me levar pra viver junto dos seus na Casa da Via Larga para garantir que meu talento não se perdesse nas trapalhadas feitas pelo senhor meu pai.

Aliás,meu pai era um caso a parte, embora fosse o retrato de muitos fiorentinos daquela época: beberrão, sempre enrolado com as finanças, tomando empréstimos de banqueiros o tempo todo, o que convenhamos, fez a florescer nossa cidade, mas pelo ego enorme e mania de grandeza, o que também sempre fora um traço dos filhos dessa terra, assim como ser  um tanto mulherengo e sem paciência alguma, o que também nunca foi algo incomum por aqui, apesar de sermos extremamente leais aos nossos verdadeiros amigos...

Dizem que eu sou arrogante, presunçoso, irritado, ufanista, ríspido, rude, tratante, exibido, avarento e até violento. Não ligo pra nada disso!!! Sei que é intriga de invejosos e sem talento como aquele Leonardo e  seu amigo Rafael... E quer saber? Se isso tudo for um tanto de verdade, não sou mais do que um homem do meu tempo e um filho ilustre de Firenze, já que tudo isso representa um quadro da alma do fiorentino no Cinquecento...

Apesar de tudo isso,  e do grande orgulho, desmedido como dizem os invejosos sienenses e pisanos, também  somos muito criativos, inventivos, cheios de energia e com um senso de beleza inigualável!!! As ruas da Firenze do Cinquecento eram cheias de mercantes e compradores, de banqueiros e endividados,  bêbados saindo das tabernas que rodeavam o Antico Mercato e área de San Lorenzo, jovens prostitutas e  prostitutos, amantes aos montes que se encontravam nos banhos próximos ao Arno, mas acima de tudo, repleta de poetas, pintores, ourives, escultores músicos, arquitetos e estilistas que constituíam seus uffizzi e botteghe por toda a área do Mercato Nuovo.  

Era um verdadeiro festival de cores e um fervilhar de ideias, bem como, uma multidão de possíveis modelos para tudo o que se imagina... a luz da toscana privilegiada, no nosso dizer: "Sine Sole Sileo", ou seja, "sem sol estou em silêncio" e as tonalidades incontáveis dos tecidos recém tingidos na área dos "tinturaio" desfraldadas ao vento, acostumou os olhos de todos os fiorentinos a observar a inflexão da luz e seus efeitos nos corpos, assim como, a construção do maior Duomo de seu tempo, fez com que o  audacioso fosse o tempero máximo de nossas personalidades... O impossível se circunscreve a algum outro lugar que não o interior das montanhas que rodeiam Firenze! 

Se eu pudesse resumir em uma frase como é viver na Firenze dos Medici, essa frase seria uma única palavra: STUPENDO!  







    






Comentários

  1. Adorei a narrativa é possível se transportar para a época e conhecer um pouco dessa história

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    1. Que bom!!! Era esse mesmo o objetivo do texto! Fico feliz demais que você tenha se sentido lá 💜⚜ obrigada pelo retorno

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