Desvendando a Família dos Médicis - Biografias - Giovanni di Bicci de' Medici
Giovanni di Bicci de' Medicci |
Aventuras e desventuras se confundem na história desta família, e conhecer um pouco mais sobre a vida de seus membros, em especial neste momento em que há a produção ítalo-inglesa Medici - Masters of Florence que visa explorar vários aspectos da história desta família, pode ser um interessante exercício de confrontamento entre a realidade e as representações dela.
Embora de origem imprecisa, sabemos que os primeiros membros da família chegaram em Florença ainda no Século XIII vindos de Mugello localizada nas montanhas que circundam a capital da Toscana.
Ali, lidavam com ovelhas e outras atividades comuns aos campesinos, fato que nunca será esquecido pelos seus rivais na cidade.
O Patriarca da Família e fundador do Banco Médici foi Giovanni; naquela época era comum que parte da alcunha tivesses relação direta com o pai, a profissão que se exercia ou o local de origem e suas características, por isso, era conhecido como Giovanni filho de Averardo, conhecido como Bicci*, dos Médicis.
Não há convergência sobre o seu nascimento, porém, a maioria dos historiadores concordam com uma data em torno de 1360, e com sua morte, em 20 fevereiro de 1429 em Florença.
Filho de Averardo, também apelidado de Bicci e de Giacoma degli Spini, desde a mais tenra juventude se demonstrou um hábil homem de negócios, fato tão relevante em sua vida que o fará ser conhecido como um dos banqueiros mais ricos da Itália.
Iniciou sua carreira trabalhando em Roma ao lado do tio Vieri na direção de seu banco, primeiro como aprendiz, depois como diretor e por fim como sócio minoritário.
Em 1385 estava a frente da filial romana do banco de Vieri e, deste detinha uma parte como sócio, gracas ao dote de 1500 florins levados pela sua esposa, a bela veneziana Piccarda Bueri. O casamento claramente contribuiu para a seu crescimento e posterior emancipação, contudo, apesar de ter sido uma aliança preparada por interesses econômicos de ambas as partes, ao que consta, o casal viveu harmoniosamente e até mesmo feliz durante todo o período de sua união.
A partir de 1393, já com bastante experiência no ramo bancário e comercial desenvolvido nos anos que passou em roma ao lado do tio, Giovanni se retira da sociedade e passa a conduzir sozinho a empresa da sua própria família aumentando o capital e prestígio graças aos anos de aprendizado, bem como a rede de relações e contatos do tempo em que foi sócio de Vieri.
Em 1397 transferiu a sede do Banco para Firenze nas proximidades da Igreja de Orsanmichele, entre o Duomo e a Praça da Signoria, mas mantém a fulcro das suas atividades financeiras em Roma, sempre trabalhando para se aproximar do Vaticano e de suas relações, se tornará o banqueiro predileto do Papa.
O Banco Medici, com uma imensa rede sucursais na Itália e no exterior, se tornou uma das mais famosas casas bancárias da Idade Média, e talvez, a principal Companhia bancária de toda a Europa, tanto que durante o Concílio de Costanza (1415) monopolizou as transações financeiras da Itália com todo o resto da Europa.
Em tempos de insegurança financeira e comercial, bem como, na difícil as estradas cheias de bandidos, condottieres e todo tipo de ameaças, ou no mar cheio de piratas e contratempos naturais, o transporte de somas de dinheiro, em especial as grandes, para fins comerciais era um risco muito alto, portanto, a invenção da Promissória e da Carta de Crédito foram medidas revolucionárias, porém, os banqueiros emitentes do crédito precisavam cobrar uma taxa que incluía juros e outras despesas bancárias referentes ao investimento feito e mantinha a parceria com o banqueiro que iria pagar o crédito na outra praça (quando não houvesse uma filial do banco emitente na cidade ou país de destino), diminuindo assim o valor do sacado, porém, com a vasta rede Medici operando, parte dos gastos era diminuído, tornando mais atrativo aos comerciantes e viajantes fazer negócio com uma das suas sucursais que com outras Casas Bancárias.
Giovanni di Bicci, então, concentrou a sua atividade para compor e consolidar as bases da fortuna financeira dos Médicis, premissa fundamental do posterior primado político.
Desta forma começou a empenhar-se em atividades que lhe dariam notoriedade na vida pública só no início de 1400, depois de ter consolidado o próprio sucesso econômico.
De 1402 em diante (1402, 1408, 1411), foi eleito repetidamente prior da Guilda** da Arte do Câmbio . Em 1403 foi à Bologna em missão diplomática; e por várias vezes foi designado à Veneza e Roma na qualidade de embaixador.
Em 1407 foi governador de Pistoia; em 1419 fez parte dos "Dieci di Balia"***; em 1421 foi nomeado "Gonfaloniere di Giustizia"****.
Como os seus predecessores, Giovanni era partidário de idéias democráticas mais próximos ao partido dos "anti-magnatas": de fato buscou o consenso das facções sociais inferiores, "il popolo minuto", ou seja, o povo da camada mais inferior, e das artes menores e contrastou o excessivo poder da facção oligárquica conduzido por Rinaldo degli Albizzi e Niccolò da Uzzano.
Mas, em geral, os Médicis sempre mantiveram um ângulo apertado no que diz respeito a fatos de maior importância socio-políticos e perigosos cidadãos, reverenciaram o acesso a um cargo público como honras pessoais, sem nunca demostrar aspirações ao poder político em si.
Pela primeira vez em sua família, Giovanni promoveu e financiou obras de arte e escritórios de arquitetura.
Sua casa em Via Larga teve frescos nas paredes, o que na época era ainda muito raro em fachadas de Florença, e foi decorado com móveis pintados por Dello Delli, infelizmente, hoje perdidos para sempre, provavelmente num dos episódios em que a Família foi banida da cidade.
Ele esteve no comitê convocado para avaliar o desempenho da competição para a segunda porta do batistério de San Giovanni, obra que foi designada a Lorenzo Ghiberti em 1401.
Participou ativamente das decisões do governo municipal em relação ao financiamento do edifício Hospital dos Inocentes projetado por Filippo Brunelleschi, e investiu significativa soma de dinheiro, o que nunca será esquecido pelos cidadãos florentinos.
Enquanto planejava a reconstrução da nova Basílica de San Lorenzo, a poucos passos de distância da casa da família em Via Larga, Giovanni di Bicci participou de forma significativa para o financiamento e comissionou o projeto de Filippo Brunelleschi para a Sacristia Velha e uma capela adjacente no transepto esquerdo no novo complexo.
Os Médicis foram protegidos por uma aliança com o Cardeal Baldassarre Cossa (ou coxa), seu cliente e amigo, a quem financiaram o caminho para o papado, fazendo-o que fosse eleito como o Papa de Roma, o reconhecido anti-papa João XXIII que em 1415 foi desligado da Igreja pelo Consílio de Constanza.
Na verdade, Giovanni di Bicci pagou o resgate de 30.000 florins para garantir a libertação de Cossa que estava encarcerado em Nuremberg e acabou morrendo em Florença em 1419,.
Cossa delegou aos amigos Giovanni di Bicci de' Médici e Niccolò da Uzzano o encargo de decidir sobre a localização e as características do seu túmulo bela obra que foi realizada por Donatello e Michelozzo Michelozzi para ser colocada no belíssimo Batistério.
Uma vez morto, o patriarca da Família dos Médicis foi colocado em um sarcófago feito por Donatello em colaboração com ajuda, incluindo Buggiano, filho adotivo de Brunelleschi, que trabalharam nesta obra no período de 1429 até meados de 1433. O túmulo foi alocado sob a mesa de mármore e pórfiro no centro da Velha Sacristia de San Lorenzo que havia sido recentemente concluída por Brunelleschi. O funeral, que ocorreu lá, custou a soma exorbitante de 3.000 florins.
Apenas dois anos antes, nos livros de registro de terras de 1427 de Florença , Giovanni di Bicci declarou a fabulosa quantia de 81,072 florins de patrimônio, tornando-se o homem mais rico depois de Palla Strozzi.
Giovanni di Bicci foi a figura mais proeminente da família, o único realmente capaz de sustentar o seu destino. Com prudência, perseverança e visão foi capaz de construir em torno dele um consenso favorável e uma boa reputação, que, juntamente com uma extraordinária riqueza constituía o precioso legado deixado para seus filhos, Cosimo e Lorenzo. A partir deles descenderam os dois principais ramos da família, a dos "cavalheiros" que se destacaram em Florença no século XV e o do "Granduque" Cosimo I, que governaram a Toscana do século XVI ao século XVIII e juntos fizeram de Florença o grande centro do mundo Renascentista.
Entrada da Sacristia Velha de San Lorenzo |
*Bicci. - Segundo a enciclopédia Dantesca, era um tipo de apelido pelo qual Dante designou Forese Donati em todos os três sonetos dirigidos a ele, e poderia configurar apenas uma distintição deste para seu avô que tinham o mesmo nome ou pode ter sido usado no tom jocoso que combina bem com o estilo brincalhão dessa controvérsia no verso ("melhor do que o nome indica, era o apelido, que tinha um sentido depreciativo, talvez porque fosse utilizado para designar outra pessoa, a um só tempo indigno ou ridícula").
Guilda** - associação que agrupava, em certos países da Europa durante a Idade Média, indivíduos com interesses comuns (negociantes, artesãos, artistas) e visava proporcionar assistência e proteção aos seus membros.
Dieci di Balia*** - Era um grupo de magistrados que regulava os aspectos criminais e de polícia na antiga Florença republicana, antes do período do granducado dos Médicis.
Gonfaloniere di Giustizia****. - Cargo de prestígio na Baixa Idade Média italiana e por todo o Renascimento, o Gonfaloniere era uma espécie de magistrado que desempenhava várias atividades leigadas à Comuna, neste caso específico de Giovanni di Bicci, era o magistrado ligado ao cumprimento da Legislação e das Penas determinadas pelo Conselho da Signoria.
BIBLIOGRAFIA : OTTAJANO, O. M. T. Storia della mia Dinastia. Edizioni Polistampa. Firenze, 2001.
CESATI, F. I Medici: Storia di una Dinastia Europea. Madnragora. Firenze, 1999.
VANNUCCI, M. I Medici: Una Famiglia al Potere. Newton Compton Editore. Roma, 2015.
DUBY, G. História da Vida Privada: Da Europa Feudal à Renascença, Volume 2. Cia. das Letras. São Paulo, 2006.
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http://www.treccani.it/enciclopedia/tag/bicci/ ( úlitmo acesso em 17/11/2016)
https://it.wikipedia.org/wiki/Otto_di_Guardia_e_Balia ( úlitmo acesso em 17/11/2016)
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