Médicis: Os Primeiros Passos - Das Montanhas de Mugello para a História da Humanidade






As origens da Família dos Médicis, como muitos outros pontos de suas histórias, tem ainda vários pontos nebulosos e imprecisos, dentre os quais, a origem da família e de suas primeiras fontes de riquezas, bem como as razões que os levaram a migrar para Firenze são praticamente ignoradas.

Provavelmente vindos das regiões montanhosas de Mugello ao nordeste de Florença, a primeira notícia de uma ancestral da casa dos Médicis é relativa à compra de terras por Averardo, de fato, em 1260 houve um grande movimento de aquisições de terras pela família nesta área do então condado de Florença, tendo sido a última aquisição registrada em 1318, realizada pelo seu filho homônimo, chamado Averardo di Averardo.
Averardo di Averardo que já ocupava o cargo de prior* desde 1309 e depois foi eleito Gonfaloniero** em 1314 teve cinco filhos: Jacopo, Giovenco, Salvestro, Francesco, Talento e Conte, que levaram uma vida dedicada à atividade bancária e fundaram a companhia "Filhos Averardi, da qual se tem notícia apenas até o fim de 1330.
Depois desta data não resultam outras atividades financeiras dos membros da família dos Médicis concentradas em grupo, talvez isso se tenha dado pelos frequentes desacordos e contrastes entre os vários componentes, via de regra aliviadas no início da formação da Companhia Fihos Averardi por questões de propriedade e herança.
De qualquer forma, a usura continuou a ser a prática  corrente dos negócios da Família, ainda que se restringisse agora a só alguns de seus membros.  

Na segunda metade do Século XIV, os Médicis, assim como uma grande sorta de comerciantes e banqueiros italianos, se encontravam em situação muito difícil, especialmente, aqueles que emprestaram dinheiro a príncipes e Reis para o financiamento de guerras, como foi o caso da Família dos Bardi - que depois se unirá aos Médicis por meio do casamento de Contessina Bardi e Cosimo (O Velho) - que faliu ao financiar uma Campanha de Eduardo III na Guerra dos Cem Anos, após os resultados desfavoráveis o Rei da Inglaterra se negou a reconhecer o empréstimo tomado dos banqueiros italianos.

Entre 1335 e 1337 Giovanni e seus irmãos, dentre os quais Filigno di Conte, compraram por cerca de 9.000 florins de ouro em 170 lotes de terra principalmente na área de Mugello. Os mesmos Giovanni e Filigno se preocuparam em aumentar também os imóveis na cidade de suas propriedades, ainda que eles tenham investido muito menos dinheiro na cidade do que o haviam feito no campo.   

Entre 1348 e 13273 compraram diversas casas e oficinas na área do "Mercado Vecchio" e da "Ponte Vecchio", áreas centrais e estratégicas de Floirença, diretamente ligadas ao comércio, bem como, vizinhas ao Arno, de onde afluíam barcos com produtos e produtores das mais diferentes partes da Itália.

A difícil situação econômica dos Médicis neste período só é superada graças ao auxílio de alguns membros da Família que participavam da gestão pública da cidade, em particular Giovanni d i Conte, filho de Giovenco e sobrinho de Averardo, grande ativista da vida pública florentina, foi Gonfaloniere em 1349, 1353 e 1356; exerceu as funções de Vicário*** em Pescia (1346) e  Podestà**** na região de Prato (1365); foi encarregado de várias missões diplomáticas e militares fora dos confins florentinos, como por exemplo em Lucca, Piemonte, Pistóia, Siena e Milão. em 1351 Giovanni se torna capitão da Província de Mugello e, com o tio Salvestro, se envolveu na defesa militar do Castelo de Scarperia contra o assédio do bando do Visconde. No ano seguinte foi à Nápoles entre o grupo de embaixadores enviados da República Florentina para render homenagem à nova Rainha Giovanna I. Em 1355 com Antonio Adimari, à frente do comando de 200 cavaleiros florentinos, escoltou Carlos IV até Roma para a sua Coroação.

Eles viviam bem próximo à área de mercado, como os seus antepassados, e ali possuíam, entre outras coisas, a torre de SanThomas e uma galeria. Mas eles decidiram residir em outro lugar e deixar de lado os antigos edifícios para as atividades comerciais e de negócios. 
Em 1349 eles compraram as primeiros nove partes de um "palácio" na Via Larga. Dessa mesma forma: os descendentes da Família Bonagiunta tinham possuído casas e terrenos ali que tinham sido vendidos no ano anterior. 

Em 1361 Giovanni di Conte e seus irmãos compraram as ações restantes dos demais onze edifício da rua, que, em seguida, no século XV se transformaria na principal residencia da Família dos Médicis, a chamada "casa velha" da família. 
Apenas 14 anos depois, em 1375, os filhos de Conde de 'Medici se tornarão proprietários de outras seis casas adjacentes ampliando significativamente a presença dos Médicis no coração comercial de Florença.

Boa parte dos registros que nos chegaram sobre o desenvolvimento da Família nesse período é devido ao livro de memórias escrito por Filigno Conte em 1374, do qual constam informações sobre a Família e suas propriedades a partir do Século XII, contudo, não há registros sobre a natureza das primeiras receitas que posteriormente ajudariam a construir uma fortuna com a administração das oficinas produtoras de lã e com a exploração da usura na maior rede bancária da Europa Medieval.


 * Prior é o guia, o chefe de um grupo ou o superior de uma ordem religiosa ou militar, geralmente designada "Priorado". O termo deriva do latim prìor, óris "primeiro de dois" ou "aquele que está na frente".
Na Idade Média, em algumas comunas italianas, os priores eram os integrantes do órgão de governo da cidade. "Palazzo dei Priori" era o nome original do palácio do "Palazzo della Signoria" de Florença.

** Gonfaloneiro (em italiano gonfaloniere) era uma função muito prestigiada nas comunas da Itália renascentista e medieval, principalmente na República Florentina. O termo deriva da palavra gonfalone, bandeira ou estandarte das cidades-Estado.No sistema político de Florença, a palavra denominava os nove cidadãos eleitos em cada bimestre de forma rotativa, para formar o governo; era quem detinha a bandeira da cidade de Florença e tinha a custódia do seu estandarte. Para se distinguir dos outros oito membros, o seu escudo de armas, fabricado em arminho, estava adornado com estrelas douradas. Cada bairro de Florença "rioni" tinha o seu próprio prior, que podia ser selecionado para o conselho, e o seu próprio "gonfaloniere di compagnia", eleito entre as principais famílias de cada zona.

*** Vicário vem do latim “vicarius” e significa “o que faz às vezes de outro” ou “o que substitui outra coisa ou pessoa”


****Podestà foi um título italiano. Deriva do latim potestas, significando autoridade ou poder. Em tempos mais antigos teve as variantes podestade ou podestate. É relacionado com potestade, uma categoria das antigas hierarquias angélicas. O ofício do podestà era chamado podesteria.
O título surgiu na Idade Média como uma magistratura individual, que a partir do século XII substitui o sistema coletivo do Consulado.



Médicis: Primeiros Passos da Família -
Das Montanhas de Mugello para a História 

Bibliografia: OTTAJANO, O. M. T. Storia della mia Dinastia. Edizioni Polistampa. Firenze, 2001.
                        CESATI, F. I Medici: Storia di una Dinastia Europea. Madnragora. Firenze, 1999.
                        VANNUCCI, M. I Medici: Una Famiglia al Potere. Newton Compton Editore. Roma, 2015. 
                       DUBY, G. História da Vida Privada: Da Europa Feudal à Renascença, Volume 2. Cia. das Letras. São Paulo, 2006. 
                      LE GOFF, J. A Idade Média e o Dinheiro. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2015.

http://www.palazzo-medici.it/ (último acesso em 08/11/16)

Comentários

  1. A nossa Dinastia não terminou nem nunca terminará como dizem em alguns textos que se refere ao ultimo dos Médici. Eu sou descendente dos Médici assim como vários outros que existem e viemos dos Médicis que imigraram para o Brasil no século XVIII .Portanto , não acabamos , sempre existiremos pois sempre vai haver um descêndente .Eu existo e sou um deles . Me chamo Antônio Luis Médici , nasci e vivo no Brasil.

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