Desvendando a família Médici - a aurora do poder
No curso dos Séculos XII e XIII o renovado esplendor da vida urbana e a potencialização da economia estavam intrinsecamente correlacionadas, o que fazia de centros comerciais como as Repúblicas Marítimas (Veneza, Gênova, Amalfi e Pisa), Florença e Lucca um atrativo a mais para as pessoas que viviam no campo, afinal, era a promessa de prosperidade e liberdade em um único lugar, rompendo com os laços de vassalagem e a miséria inerentes ao campo servil.
Pouco sabemos com relação à origem precisa da Família dos Médicis, contudo, os indícios documentais mais fortes nos apontam para o Século XII nas montanhas de Mugello, já nos arredores de Florença. A principal fonte de riqueza da região é o trabalho na terra, a criação de gado leiteiro e caprinos, o que durante muitas décadas serviu para associar o nome dos Médicis à alcunha pejorativa de "pobres leiteiros", "criadores de cabras das montanhas", ou "contadine" (o equivalente português a caipiras).
Apesar de terem seu ancestral mais remoto localizado em Mugello, a origem do sobrenome - no italiano Medici e em português Médicos - não tem um dado preciso. Alguns de seus biógrafos apontam que um ancestral remoto teria exercido essa profissão, o que legara o nome aos descendentes, bem como seria a razão para as "palle rosse" (bolas vermelhas) nas armas da Família, uma vez que as pílulas medicinais àquela época eram esferas quase sempre vermelhas ou azuis. Entretanto, não é possível verificar essa hipótese, pois além da ausência de registros precisos sobre quem seria este ancestral, não há nenhum ancestral deles registrado em qualquer corporação de ofício ligada à Medicina naquele período e região.
E como sabemos, durante toda a Idade Média, uma pessoa só podia trabalhar em um determinado ofício - pedreiro, carpinteiro, padeiro ou comerciante - se fosse membro de uma corporação. Caso essa norma fosse ignorada, havia o risco de expulsão da cidade.
Cada corporação agrupava um determinado ramo de trabalho e por isso era chamada de corporação de ofício. Em cada uma das cidades medievais existiam várias corporações de artesãos: dos tecelões, dos tintureiros, dos ferreiros, dos carpinteiros, dos ourives, entalhadores de pedras, entre outros. As pessoas geralmente ficavam 10 anos em cada oficio,e seu mestre do oficio era obrigado a dar alimentos e moradia.
Na florença do Século XII, dentre as corporações de ofício se destaca uma sistemática organização dos grupos de trabalhadores entre as Guildas das 7 Artes Maiores (Mercadores de Tecidos Importados, Câmbio, Seda, Lã, Médicos e Boticários, Juízes e Notários) e as 12 Menores (artesãos em geral), e antes da chegada de Giovanni de Bicci de' Médici em Florença não encontramos rastro de seus ancestrais ligados a nenhuma dessas guildas em qualquer parte da Toscana, o que nos leva a crer em duas hipóteses:
1- a família não era Toscana e buscava com a mudança de região esconder seu passado;
2- a família era de origem campesina e estava anteriormente ligada a um pacto de vassalagem de região ignota e distante o que nos faz perder seus rastros remotos.
De qualquer forma, sua origem imprecisa é apenas um dos muitos mistérios que envolvem a história da família e do qual derivaram muitas lendas e boatos.
Para engrandecer a história familiar, os primeiros biógrafos dos Médicis, ainda seus coetâneos do Renascimento, buscaram explicar as armas das mais criativas formas possíveis. Uma delas conta que as os círculos vermelhos (originalmente onze e posteriormente 6, sendo 5 círculos vermelhos e um azul com flores-de-lis douradas) sobre o escudo dourado, foram resultado de golpes dados por um gigante contra o escudo de um ancestral Médici que teria lutado junto das tropas de Carlos Magno contra os Lombardos no Século VIII.
Outra versão, esta um pouco mais convincente, associa os círculos aos "Bisanti", moedas circulares correntes á época como um equivalente ao dólar na atualidade, ou seja, uma moeda de referência, com a qual se realizava as operações de câmbio, isso os associaria diretamente ao ofício de cambistas, uma das primeiras atividades, e talvez a que os tornaram mais conhecidos, quando chegaram à Florença.
O fato é que uma combinação feliz entre obstinação individual e oportunidade econômica-social fez com que os Médicis saíssem das montanhas de Mugello, como tantas outras famílias e buscassem um espaço no comércio fervilhante da próspera Florença desde o início do Século XIII.
O primeiro registro de um Médici em Florença é de Salvestro de' Médici, um dos participantes da Revolta dos Ciompi em 1378, que apesar de ter se mantido estrategicamente à sombra durante o período da revolta, todos sabiam que Salvestro era um dos cabeças do movimento que clamava mais direitos e espaço de participação para os trabalhadores assalariados dos ofícios de Lã.
A dita revolta dos Ciompi não foi uma manifestação isolada e sim a culminância de uma série de revoltas populares ocorridas em Florença entre as décadas de 1340 e 1380. Seu nome é decorrente da denominação dos trabalhadores assalariados das Guildas da Arte da Lã que queriam espaço para participar dos órgãos diretivos da cidade, o que por pressão popular, aconteceu entre os dias 22 de julho de 1378 a 31 de agosto de 1378.
O episódio em questão, e, por consequência a participação nele, é muito relevante, pois debate entre historiadores consideram este movimento como a primeira revolta operária da História.
Pouco sabemos com relação à origem precisa da Família dos Médicis, contudo, os indícios documentais mais fortes nos apontam para o Século XII nas montanhas de Mugello, já nos arredores de Florença. A principal fonte de riqueza da região é o trabalho na terra, a criação de gado leiteiro e caprinos, o que durante muitas décadas serviu para associar o nome dos Médicis à alcunha pejorativa de "pobres leiteiros", "criadores de cabras das montanhas", ou "contadine" (o equivalente português a caipiras).
Apesar de terem seu ancestral mais remoto localizado em Mugello, a origem do sobrenome - no italiano Medici e em português Médicos - não tem um dado preciso. Alguns de seus biógrafos apontam que um ancestral remoto teria exercido essa profissão, o que legara o nome aos descendentes, bem como seria a razão para as "palle rosse" (bolas vermelhas) nas armas da Família, uma vez que as pílulas medicinais àquela época eram esferas quase sempre vermelhas ou azuis. Entretanto, não é possível verificar essa hipótese, pois além da ausência de registros precisos sobre quem seria este ancestral, não há nenhum ancestral deles registrado em qualquer corporação de ofício ligada à Medicina naquele período e região.
E como sabemos, durante toda a Idade Média, uma pessoa só podia trabalhar em um determinado ofício - pedreiro, carpinteiro, padeiro ou comerciante - se fosse membro de uma corporação. Caso essa norma fosse ignorada, havia o risco de expulsão da cidade.
Cada corporação agrupava um determinado ramo de trabalho e por isso era chamada de corporação de ofício. Em cada uma das cidades medievais existiam várias corporações de artesãos: dos tecelões, dos tintureiros, dos ferreiros, dos carpinteiros, dos ourives, entalhadores de pedras, entre outros. As pessoas geralmente ficavam 10 anos em cada oficio,e seu mestre do oficio era obrigado a dar alimentos e moradia.
Na florença do Século XII, dentre as corporações de ofício se destaca uma sistemática organização dos grupos de trabalhadores entre as Guildas das 7 Artes Maiores (Mercadores de Tecidos Importados, Câmbio, Seda, Lã, Médicos e Boticários, Juízes e Notários) e as 12 Menores (artesãos em geral), e antes da chegada de Giovanni de Bicci de' Médici em Florença não encontramos rastro de seus ancestrais ligados a nenhuma dessas guildas em qualquer parte da Toscana, o que nos leva a crer em duas hipóteses:
1- a família não era Toscana e buscava com a mudança de região esconder seu passado;
2- a família era de origem campesina e estava anteriormente ligada a um pacto de vassalagem de região ignota e distante o que nos faz perder seus rastros remotos.
De qualquer forma, sua origem imprecisa é apenas um dos muitos mistérios que envolvem a história da família e do qual derivaram muitas lendas e boatos.
Para engrandecer a história familiar, os primeiros biógrafos dos Médicis, ainda seus coetâneos do Renascimento, buscaram explicar as armas das mais criativas formas possíveis. Uma delas conta que as os círculos vermelhos (originalmente onze e posteriormente 6, sendo 5 círculos vermelhos e um azul com flores-de-lis douradas) sobre o escudo dourado, foram resultado de golpes dados por um gigante contra o escudo de um ancestral Médici que teria lutado junto das tropas de Carlos Magno contra os Lombardos no Século VIII.
Outra versão, esta um pouco mais convincente, associa os círculos aos "Bisanti", moedas circulares correntes á época como um equivalente ao dólar na atualidade, ou seja, uma moeda de referência, com a qual se realizava as operações de câmbio, isso os associaria diretamente ao ofício de cambistas, uma das primeiras atividades, e talvez a que os tornaram mais conhecidos, quando chegaram à Florença.
O fato é que uma combinação feliz entre obstinação individual e oportunidade econômica-social fez com que os Médicis saíssem das montanhas de Mugello, como tantas outras famílias e buscassem um espaço no comércio fervilhante da próspera Florença desde o início do Século XIII.
O primeiro registro de um Médici em Florença é de Salvestro de' Médici, um dos participantes da Revolta dos Ciompi em 1378, que apesar de ter se mantido estrategicamente à sombra durante o período da revolta, todos sabiam que Salvestro era um dos cabeças do movimento que clamava mais direitos e espaço de participação para os trabalhadores assalariados dos ofícios de Lã.
A dita revolta dos Ciompi não foi uma manifestação isolada e sim a culminância de uma série de revoltas populares ocorridas em Florença entre as décadas de 1340 e 1380. Seu nome é decorrente da denominação dos trabalhadores assalariados das Guildas da Arte da Lã que queriam espaço para participar dos órgãos diretivos da cidade, o que por pressão popular, aconteceu entre os dias 22 de julho de 1378 a 31 de agosto de 1378.
O episódio em questão, e, por consequência a participação nele, é muito relevante, pois debate entre historiadores consideram este movimento como a primeira revolta operária da História.
A república de Florença sempre primou por uma articulação política popular e democrática e desde 1293 - com a publicação dos ordinamenti di giustizia (ordenamentos de justiça), que estruturavam em 21 artes as corporações profissionais da cidade - a organização local caminhava tranquilamente, tendo os artesãos e pequenos comerciantes no agrupamento das artes menores e os banqueiros e grandes comerciantes nas esferas das artes maiores, o que excluía a aristocracia e boa parte dos assalariados da lógica administrativa.
Contando com aproximadamente 100 mil habitantes em 1338, a cidade era rica por causa da indústria, do comércio e das atividades bancárias, sendo que politicamente se dividia em dois partidos: os gibelinos, partidários do Império contra o papa; e os guelfos, partidários da causa papal.
Entre 1343 e 1348, os magnatis (famílias nobres) foram expulsos dos órgãos de poder. A cidade se viu ainda governada por um breve período por Gautier de Brienne (1342-1343), duque de Atenas, período que ficou marcado por diversos conflitos populares, apenas contidos pela chegada aterradora da peste em 1348.
Como meio de apoio para confrontar a alta burguesia, o duque buscou agradar os operários dentre os quais, organizou os operários da lã não em uma arte, mas numa associação armada, já que há muito os tintureiros desejavam formar uma nova arte, ele agora os oferecia um espaço ainda mais proeminente na participação do Estado. Entretanto, depois de um levante apoiado por quase toda a cidade, menos açougueiros e uns poucos operários, o Duque foi derrubado e as armas continuaram nas mãos dos operários da lã que as utilizaram nos anos posteriores.
Em 1343, 1.300 operários se sublevaram contra a ditadura dos detentores dos meios de produção e em 1345 uma nova revolta dirigida por um cardador objetivava a organização dos operários da lã, desta vez para obterem seu espaço definitivo na Signoria de Florença.
Um outro elemento aumentou a fervura do caldeirão: A PESTE! Em 1348 ela dizimou boa parte da população o que levou ao aumento dos salários em razão da escassez de trabalhadores, o que acirrou ainda mais o ânimo entre patrões e operários.
Entre 1370 e 1372, uma greve dos tintureiros ocorreu, e ainda que tenham sido derrotados, os ânimos dos trabalhadores não esmoreceu.
Neste momento os conflitos internos entre os Guelfos crescia exponencialmente, pois a alta burguesia via seus interesses se oporem aos da pequena burguesia crescente. A disputa interna teve como consequência a ascensão de Salvestro de Médici ao cargo de magistrado de justiça em junho de 1378, representando a pequena burguesia e propondo medidas contra artes maiores.
As várias artes saíram às ruas para defenderem suas posições, havia comícios em praça pública quase todos os dias, e as facções (Guelfos Negros e Brancos) se dividiam nas diferentes regiões da cidade (Gonfalone, o equivalente a distritos); os operários aproveitaram a deixa e também partiram para o conflito, pondo fogo em casarões e em prisões.
Salvestro de Médici venceu o embate entre os Guelfos, mas a direção do movimento que ele liderara que era da pequena e média burguesia caiu nas mãos dos operários e desviou os caminhos.
Como não houve resposta rápida às reivindicações, os trabalhadores invadiram o palácio do Governo em 21 de julho de 1378, nomeando Michele di Lando, um cardador de lã, como magistrado de justiça. Ele formou um governo provisório com os chefes das artes menores.
Em 08 de agosto, uma nova forma de governo foi instituída atendendo às reivindicações dos operários, somando uma força armada composta por cidadãos. Os operários ainda não confiavam no governo constituído em aliança com as artes menores e se retiraram para Santa Maria Novella, no noroeste da cidade, organizando-se de forma semelhante a um partido e convidando as outras artes para formar uma nova constituição. Formaram-se, dessa forma, dois governos, um no Palácio da Signoria e outro na Igreja de Santa Maria Novella, de frente à região do Mercado Velho.
Entretanto, Michele di Lando traiu os operários, reprimindo-os e vencendo-os no início de setembro, aparecendo posteriormente apenas alguns levantes que foram esmagados. As artes menores dividiram o poder durante um tempo com as artes maiores, mas somente até a burguesia novamente se ver forte para impor seu poder, principalmente com a desorganização dos operários. Michele di Lando foi, posteriormente, exilado, as artes dos trabalhadores da lã não proletarizados e as dos alfaiates foram extintas e a estrutura do poder anterior ao levante de 1378 foi restaurada em 1382, mas à essa época, os Médicis já estavam empenhados na atividade bancária e Giovanni di Bicci de Médici tocava um Casa Bancária de seu tio em Roma, onde pode aprender com maestria o ofício e tecer inúmeras relações que posteriormente lhe serviriam para a formação de sua própria "Banca".
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