Mistérios, Segredos e Excentricidades dos Médicis - A Cupolina da Sacristia de San Lorenzo

O Mistério dos Médicis - que segredos esconderia a pintura da Cúpula do Zodíaco na Sacristia Velha de San Lorenzo?

A Basílica de San Lorenzo é por si só uma grande obra de arte sacra e um grande exercício de observação sobre a evolução da arte renascentista em Florença.
Suas duas sacristias - a Velha que abriga os patriarcas da Família dos Médicis e a nova que abriga os chamados Príncipes desta mesma casa - apresentam obras de grandes expoentes da Arte como Donatello, Verrochio, Brunelescchi, Filipo Lippi e Michelangelo, entre outros.

Todas as obras que constam da Basílica são repletas de simbologia e significados que fazem alusão à história da família, da cidade e do renascimento na Itália.
Mas a belíssima Cúpula da Sacristia Velha, elaborada por Brunelescchi, apresenta uma pintura encantadora que destoa um pouco do restante da obra; não obstante o seu estilo, a sua tônica também apresenta qualquer desalinho.

A pequena Cúpula do Zodíaco, como ficou conhecida a pintura, ou "Lemisferio celeste", a pintura feita por Giuliano D'Arrigo, conhecido como "Pesello" apresenta uma detalhada abóboda celeste, na qual se pode ver a conjunção zodiacal do dia 04 de julho de 1442.

Como todos os elementos presentes na Basílica tinham forte relação com a história da Família e de Florença, a primeira idéia a que esta pintura nos remete é que a noite do dia 04 de julho marca algum evento de alta relevância que deve ser passado para as gerações futuras, e, por conseqüência, imortalizado na pintura da Sacristia que abriga restos mortais de Giovanni di Bicci (o primeiro elemento da Família a se instalar em Florença) e Piero, o Gotoso, pai de Lorenzo, o Magnífico.


Contudo, na historiografia oficial da Família e da cidade nenhum fato foi registrado neste dia ou nos dias que se sucederam, então, qual seria o mistério da mensagem oculta nos desenhos zodiacais do céu de 04 de julho de 1442?
Nenhuma morte ou nascimento; nenhum ganho extremo ou perda significativa; nenhum inimigo declarado ou exílio determinado; nenhum tipo de conspiração, das muitas que viveram os Médicis ao longo de suas vidas, quer como vítimas ou algozes, fora deflagrada. Qual o motivo de marcar esta data?

O primeiro ponto a ser pensado é que todos os símbolos presentes na pintura indicam um nascimento, todavia, de que natureza de nascimento estaríamos falando? Algum bastardo obscuro? Alguma aliança secreta? Um grande pacto? 

Vejamos o que dizem os elementos traçados ali:
O sol em Câncer, signo representante da maternidade e fertilidade, nos fala de uma nascimento, de amor, de expansão e proteção. 
A Lua em Touro, insiste no conceito da procriação, e também alude a uma intensa sensibilidade, a um imenso estímulo afetivo Hedonista e à importância dos valores tradicionais e familiares;

Vênus está posicionado também em Câncer o que significa uma exaltação dos valores afetivos a uma máxima potência, isto é, o desejo e a sensualidade unidos ao gosto pelas coisas belas 

Uma única nota discordante nesta área de romantismo e amor é dada pelo aparecimento de Júpiter  posicionado em Áries, signo um tanto belicoso, que tende  nesta posição a frear sua agressividade para significar a busca por ações de gozo da vida em sua plenitude e da pura felicidade através das suas atividades cotidianas. 

Poderia muito bem descrever a personalidade de uma homem  decidido, político, atuante de forma apaixonada e que assume os riscos necessários para continuar a crescer, mas isso seria tudo?
Uma interpretação possível parte do princípio de que Cosimo "o Velho",, como toda a sua família eram grandes amantes das artes zodiacais e teriam com isso assinalado o nascimento de sue primogênito Piero, nascido a 06 de julho de 1416, que teria como alinhamento de seu céu astral exatamente Câncer e Gêmeos, não obstante a possibilidade da disparidade de dois dias e 6 anos na data representada no afresco e o evento citado, ainda poderíamos arriscar uma menção aos múltiplos ajustes feitos no calendário oficial do século XV até hoje, entretanto, outros elementos dispostos no hemisfério celeste da capela não batem, até porque, como sabemos, Piero era frágil, inseguro e alheio ao trato político, ou seja, esta não é a reposta justa.

Outra possibilidade seria a  chegada de Renato D'Angiò a Florença em 1442, pois após ter sido expulso do Reino de Nápoles por Dom Alfonso de Aragão, Renato buscava apoio dos florentinos para reconquistar espaço. Sabemos que de fato sua presença na cidade foi muito celebrada e que, inclusive, lhe rendeu uma homenagem de Piero de Pazzi, cujo foi filho foi batizado como o nome do ilustre visitante. Uma cúpula adornada de modo similar também pode ser vista da Capela que pertencia à família Pazzi, porém, não podemos identificar com precisão a data que representa tal o estado de deterioração dos elementos do afresco, impossibilitando a exata leitura do evento. O elemento mais marcante para a aceitação desta teoria tem a ver com a influência que exerceu Renato para a reunificação da Igreja Católica em cisma e dos esforços conjuntos das duas principais famílias de Florença: Os Médicis e os Pazzi, contudo, a data também não bate com os elementos descritos, pois o anúncio oficial da reunificação das Igrejas do Oriente e do Ocidente foi feito no Duomo - Igreja de Santa Maria del Fiore - no  dia 06 de julho de 1439.

Infelizmente, ainda hoje, tanto tempo depois, são muitos os mistérios que envolvem a história da Família dos Médicis, e, apesar de tantas pesquisas, só podemos especular sobre estes fatos, pois ao que parece, esta mensagem cifrada foi para o túmulo com Gian Gastone, o último representante da ilustre Família florentina .




BIBLIOGRAFIA: SANTI, B. San Lorenzo e le CAppelle Medicee. Editrice Beccocci-Scala. Firenze, 2012.
                               FERRI, M. & LIPPI, D. I Medici: la Dinastia dei Misteri. Giunti Editore. Milano, 2010.

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